sábado, 8 de maio de 2010

III Budapest - Agadir 2010



19.01.2010- Fácil de concluir que o raid propriamente falado começaria em Marrocos e suas pistas off- road. Mais duras para a categoria "Race" que para a categoria "Adventure", haveria adrenalina para todos. O nosso acordo coma organização do BB foi o seguinte: como jornalistas amadores, fariamos a cobertura escrita e fotografada da categoria "Race", cobertura essa que seria publicada em seis páginas da revista OffRoad 4x4 de Março. Mas, com a alteração do trajecto e dos principais objectivos do raid, tudo se baralhou. Apesar de procurarmos disfrutar ao máximo do novo trajecto a verdade é que, agora, tudo ficou diferente e, desde logo, entendemos que o nosso acordo com o BB estava resolvido, sem retorno para qualquer das partes. Se a ideia da reportagem não foi logo totalmente posta de lado passou a ser pensada como uma meia página a contar o sucedido e já não uma reportagem do novo raid. Se para a malta do leste vir para Marrocos já era uma boa expedição, para nós, Marrocos é nosso vizinho, já aqui ao pé da porta. Tudo isto para dizer que nos sentimos livres de seguir o trajecto que entendessemos, sem preocupações jornalisticas, sem tempo, sem roadbook, simplesmente ao sabor da vontade. Não quero com isto dizer que não apareciamos em alguns meetings da partida e da chegada mas sempre com larga margem temporal e, se não apareciamos de manhã, apareciamos à tarde, ou seja, estavamos sempre presentes para receber o TC e o roadbook, ouvir as novidades, as queixas, as mazelas e, principalmente, os novos planos que começavam a ser ventilados.
As etapas diárias oficiais para Marrocos foram as seguintes:
19 - Nador / Merzouga (Erg Chebbi)
20 - Merzouga (Erg Chebbi) / dia livre
21 - Merzouga (Erg Chebbi) / Tinerhir
22 - Tinerhir / Zagora (Mhamid)
23 - Zagora (Mhamid) / Assa
24 - Assa / Tarfaya
25 - Tarfaya / Cap Draa
26 - Cap Draa / Sidi Ifni
27 - Sidi Ifni / Tafroute
28 - Tafroute / Taliouine
29 - Taliouine / Agadir
Pois bem. Saimos do ferry as formalidades fronteiriças foram bastante agilizadas, colocaram-nos o TC, roadbooks na mão (vá lá saber-se para quê), gasóleo no depósito, pequeno almoço num café de Nador e vamos para a estrada. Uma novidade magnífica - o Toy gostou de África - por passo de mágica não engasga, não perde potência, está a 100%. Tinhamos a ideia de nos colarmos a alguém, mas com esta boa nova, de uma forma pouco cautelosa e atrevida, ficamos livres como pássaros cujo único objectivo era chegar ao "ninho" no fim do dia. Como é que vamos chegar ao Erg Chebbi? Logo se vê. O Toy está fixe, nós estamos fixes. Tinhamos um track que atravessava o "Plateau du Rekkam", é por aí que vamos. Nada como atravessar o planalto rumo ao sul de Marrocos. É "straight away". Direcção Taourit e depois Debdou onde literalmente há uma ingreme e estreita subida para o "plateau". Quando chegamos ao plano que efectivamente é muito alto, 1500 metros,a sensação é extasiante. A paisagem é de cortar a respiração - é uma planície no céu. São quilómetros e quilómetros de planície a perder de vista. Pois, o Toy está perfeito mas pode ter uma recaida. Não vamos atravessar o planalto todo. Vamos derivar para sudoeste e apanhar o esfalto. Andar só por estas bandas é altamente desaconselhável. Com o carro em convalescência é já "pôr-se a jeito" e não era a ideia. Derivamos então para a N15 em direcção a Missour, Midelt, Ar-Rachidia, com passagem pelas "Gorges du Ziz" e Erfoud onde chegamos já noite. Fomos directos para a pista de areia que liga Erfoud ao Erg Chebbi em direcção a Merzouga. Quando deixamos o alcatrão estavam uns furgões indecisos se avançavam ou não. Ainda bem que decidiram pela negativa porque a pista não era fácil, muita areia e, à noite, "todos os camelos são pardos". Seguimos com outros participantes que, a meio da pista, derivaram para a esquerda. Bom seguiram outra pista. Mentira. Quando chegamos às imediações de Merzouga (ou Adrouline, sei lá) reinava um silêncio e um breu de lua nova. O que é que se passa? Onde está o acampamento? Pois, pensando que o acampamento era em Merzouga não consultamos as notas e coordenadas do roadbook. Merzouga fica no limite ocidental do Erg, mesmo no meio. O acampamento ficava no limite norte. Bendito GPS porque de noite, não ia ser fácil. Lá fomos contornando o Erb sempre com muito cuidado para não atascar pois estavamos fora de rota e finalmente encontramos o camping instalado mesmo nas margens do Erg perto de um albergue com quartos e bivouac. O furgão do nosso amigo Kariati já lá estava, inconfundível com as suas duas listas azuis. Demos uma "ganda bolta" mas vá que não ficamos plantados no areal.
Estacionamos à beira dos nosso amigos e preparamo-nos para fazer o jantar tendo como quadro de fundo as dunas do Erg e como telhado um céu que se vê mais enfeitado no deserto. Começava a fazer um fresquinho que queria adivinhar uma noite fria. Compartilhamos uma geladinha com os nossos amigos, como aperitivo, nós oferecemos um branco alentejano fresquinho enquanto faziamos um arroz com enchidos vários e cogumelos que estava supimpa. Esfriava a cada minuto. O parque era a areia. Uns ficaram no albergue outros acamparam, mas acampar como ao diante se veria, não foi grande ideia. Já não chegamos a tempo do "breefing" mas logo fomos informados que o dia seguinte era de descanso para dar umas voltas no Erg. Bem mereciamos. Foi uma estafa. Havia bastante movimento e barulho provocado pelos camiões da assistência mecânica. Apesar, a multicolor imagem do circo no deserto era relaxante. Durante o jantar estivemos a conversar com o Kariati e amigo do qual não me recordo o nome pois os nomes hungaros são muito dificeis de "encaixar". Começava a falar-se cada vez mais da ida "ad-hoc" para Bamako. Amanhã aprofundamos isso. Ligeira volta pelo camping, pelo albergue e pelo bivouac - só se falava em ir para Bamako. Vamos estriar a tenda de tejadinho. Já fazia um frio dos diabos. Dormi vestido, com casaco, saco-cama e cobertor em cima e mesmo assim estava gelado. A lona da tenda quase pingava dada a condensação. Durante a noite começamos a ouvir carros a trabalhar, tinha sido o pessoal que, como não se tinham preparado para o frio, deixaram as tendas e foram para os carros com o aquecimento ligado. De manhã tive a resposta, o termómetro marcava dois graus negativos. No deserto o dia é muito quente e a noite muito fria. Há que acautelar.

20.01.2010 - O dia foi praticamente de descanso. Quem quis foi "atacar" as dunas do "Erg Chebbi" mas no final regressou à base pois o camping permaneceu no mesmo sítio. No dia seguinte é partiriamos para Tinerhir. Levantamo-nos relativamente cêdo. Fazia mesmo muito frio. Só por volta das 9.30h é que o sol começou a aquecer. Tomamos o pequeno almoço, ficamos um pouco ao sol para aquecer o esqueleto e fomos dar uma volta pelo "circo". Como já anteriormente referi tinhamos informações priveligiadas através do nosso amigo Gabor. Havia um "ruido" estranho no ar. Falava-se em seguir para Bamako, à revelia da organização, com o Andrew. Tão simples quanto isto: quem quisesse seguir para Bamako que aparecesse no dia 25.01 às 21.30h no Hotel Regency em Dakhla. Quem estava a organizar a "revelião" era tão só o Andrew Szabo. Bom o Andrew é tão só o fundador e proprietário do BB. Afinal o que é que se passa Gabor? Estão é o seguinte: o Andrew tinha cedido a exploração do BB aos irmãos Polgar por três anos. Compreendeu a decisão deles mas, nem por isso queria deixar de seguir para Bamako. Dizia o Gabor que ele queria seguir para Bamako porque tinha contratado um filme sobre o raid e queria fazê-lo de qualquer forma. A organização já tinha feito circular um prospecto em que explicava o motivo da decisão e os eventuais perigos. Era uma luta desenfreada da organização para não desmanchar o raid já de si bastante enfraquecido. Quem estava a pensar "descer" já não queria "subir" para Tinerhir e sim seguir directo para Zagora / Mhamid e aguardar aí o dia pelo raid que aí iria pernoitar depois de Tinerhir. Era o BB, ou melhor, o BA, a desmembrar-se. A maioria deste pessoal era da categoria "Adventure". Mas a "Race" também ficaria afectada. Nós estavamos indecisos mas virados para seguir o Raid mais uns dias. Nós que para além da expedição também tinhamos o trabalho de reportagem ainda foi pior decidir. A ida a Bamako sem a organização dava a sensação de que se ia para salvar uma frustração. O astral era baixo, carregado de indecião. Não tinhamos feito planos para ir a Bamako. Os planos foram feitos pela organização. Por outro lado, andar por Marrocos também não tinha sido o nosso objectivo. As coisas não estavam a correr bem. O espirito era cabisbaixo, de avanços e recuos. Tanto trabalho e despesa para estarmos em Marrocos. Fomos ao leste da Europa para ir para Marrocos. Vamos relaxar o dia e logo se vê.
O resto do dia foi dominado pela "deserção", pelo convívio, pelos comes e bebes. Bem este pessoal de leste bebe, mas bebe!!!! E depois é só material "explosivo". Como tinhamos a tenda aberta e não estavamos com pachorra para a fechar nem tiramos o carro do sítio. O pessoal ia e vinha, uns atascanços nas duras, uma invasão de vendedores ambulantes que, como habitualmente, aparecem do nada, mas que foram imediatamente repildos pelo pessoal do albergue com aquela habitual algazarra. O dia passou-se pois no convivio ora com os ingleses do taxi londrino e do fusca; com os nossos amigos hungaros do furgão azul e branco; com os polacos do camião e respectiva comitiva, que eram umas autenticas esponjas, falamos com o Andrew que confirmou a reunião em Dakhla e a ida a Bamako, no final do dia houve o meeting habitual que não trouxe nada de novo. Preparamos o nosso jantar - preparamos eu na logística e bebidas e o Bré nos cozinhados que, diga-se de passagem, tinha muito jeito. Os enchidos das Carnes Seara, ora com arroz, ora com massa, ficavam um mimo. Pãozinho fresco e bom não faltava, com um patê e lá faziamos o repasto. Mais duas de treta e toca a dormir que já faz um frio tremendo e amanhã é para avançar cedo. Vestir os agazalhos todos e upa para o andar de cima.
21.01.2010-

quinta-feira, 22 de abril de 2010

II Budapest - Agadir 2010



16.01.2010 - Hoje era suposto ser o grande dia. O recuo da organização baralhou tudo. Ninguém sabia o que fazer, como reagir...
Sete da manhã, acorda, banho, veste, arruma tralha, pequeno almoço, chave na recepção e ala que o taxi está à espera:Ringue de Gêlo.
O ambiente era tremendo. Quem não sabia das vicissitudes estava a ver um grande espectáculo: preparava-se a partida para o BB 2010.
A côr, a multidão, a azáfama da partida, o espectáculo do palco, os visitantes, os participantes, a organização, os carros pitorescos, coloridos, a neve que caiu durante a noite virou gêlo e também enfeitava. O dia nasceu bonito, aberto, azul, soleado. Não deviam ter recuado...
Os motores já roncavam para afastar o frio. Ultimas arrumações e fixações da bagagem. Vamos arrancar. A ordem de saida é como os carros estão aparcados. É imensa a multidão que veio apreciar tamanho espectáculo. Fotos, filmes, beijos e abraços de despedida. Sem dúvida uma grande movimentação de máquinas e gente.
Tirar o gêlo dos vidros não é fácil. Nada como aprender com o pessoal do lado que logo se vê estar habituado à empreitada. Com a escova a coisa anda...
Os carros iniciam a marcha conforme a sua disposição no parque,fazem a "passerelle", sobem o palco são cumprimentados pelo apresentador, a organização entrega o "road book" do primeiro dia, as "coquettes" do visadron hungaro também ajudam à festa, desce o palco, começou a travessia do sul da Europa rumo a África, próxima, mas África.

Chegou a nossa vez, tchau-tchau, bye-bye, sair do ringue, contornar a Praça dos Herois, avenida após avenida, vamos cruzando Budapeste, atravessamos a ponte sobre o Danúbio e estamos na estrada, tendo como meta a cidade italiana de Mantova da qual nos separam cerca de 850 kms - atravessar a Hungria, bordejar a fronteira da Croácia, Eslovénia e Itália.
A nossa tão bem programada expedição, decididamente, não estava a correr a gosto. Mal saimos de Budapeste o Toy começou a falhar - quando a estrada subia não passava dos 60/70Kmh, em plano 90/100 e a descer, pois, todos os santos ajudam. Como o carro vinha de uma longa intervenção a preocupação foi redobrada á qual há que somar a mudança de destino, a distãncia e, em boa verdade, ainda não nos sentimos da mesma forma na europa de leste como nas nossas bandas. Tinhamos começado o raid e já com problemas mecânicos, o que fazer, avançar, voltar a Budapeste, será disto, será daquilo, liga para Portugal para o mecânico, ao quilómetro 80 decidimos voltar para Budapeste, ligamos ao Andrea para ele nos acompanhar ao mecânico que tinhamos conhecido no dia anterior. O mecânico lá verificou o carro e, em s.o.s. inclinou-se para eventual má qualidade do gasóleo: mudou-se o filtro do óleo e buscamos uma estação de serviço específica que tinha o melhor gasóleo com aditivo e fomos atirados à sorte. Com somos optimistas até concluimos que carro já estava a 100%. Optimismo de pouca dura: o carro melhorou mas está longe dos 100%. Bom para a frente é que é e logo vemos e, com estas e aquelas só pelas 15h é que saimos de Budapeste. A ideia de ter que andar de noite com o carro incerto e o fresquinho que fazia não era muito interessante. Também perdemos de ver os bosques de neve da Eslovénia já que só por lá passamos de noite. Dentro dos possíveis foi uma correria até Mantova, com um ligeiro engano numa rotunda após saida da auto-estrada nos levou à fronteira da Croácia com rapazes muito simpáticos mas ainda muito "armados" para o nosso hábito fronteiriço - vá lá deêm aqui a voltinha em solo croata, voltem à rotunda e é a terceira à esquerda em vez da quinta. Bordejamos a fronteira numa estrada nacional e, alguns quilómetros à frente, voltamos a entrar na auto-estrada e sempre assim até Montova onde chegamos já pela meia-noite. Manotova é uma cidade entre muros, magnífica com uma praça medieval toda empedrada, que merecia uma visita mais prolongada o que não foi o caso pois fomos directos ao hotel, comemos duas sandes e logo dormir para acordar às 6h já que a partida seria às 07.30h.

17.01.2010 - A partida para a segunda etapa é feita na bela e medieval Piazza Sordello, com o seu belo Palazzo Ducale e termina em Perpignan num percurso de 900 kms que logo começa a descer para o Mediterrâneo. O Toy continua "engripago e engasgado" mas vai andando. A Côte d`Azur aguarda-nos...
Antes da fronteira saimos da auto-estrada, para San Remo e fizemos todo o percurso até ao Mónaco pela estrada nacional à beira mar. Magnífico, até nos esqueçemos que o Toy anda a falhar, ou será que ele, com a aproximação do mediterrâneo também melhor. Não me recordo. O que é certo é que forma bons momentos, com musica alta e o pessoal animado. Chegados ao Mónaco, como não podia deixar de ser, fizemos a parte do circuito que liga o centro da cidade, tunel, piscinas marina. Lá chegados estava um grupo de BBs, nele incluido o Andrew com a sua camisa folclórica, cabeleira negra aos caracóis e grandes óculos redondos de aros grossos. Estava sentado no passeio da maraina com maquina de filmar e tripé a fazer uma auto - reportagem. O Andrew é uma figura enigmática com os seus adornos e seu pitoresco Peugeot 504.

Almoçamos e retomamos a "Autoroute du Sud" até Perpinan. Mais uma vez o Toy a apresentar queixas com o aproximar do fim do dia - será que está a ficar esquisito e não se dá com o frio?. Retiramos-lhe a valvula de retorno do gasóleo. Não é que fizemos os 200kms que nos separavam de Perginan sem falhas de potência. Demos com a coisa - a valvula de retorno estava a causar problemas. Chegamos a Perpignan já noite, estafados fomos ter ao parque BB e directos ao Hotel para jantar e dormir pois no dia seguinte havia muito do mesmo. No parque do Hotel encontramos os Sepulvedas que já tinham chegado. "Pessoal não levem muita bagagem senão não cabem no quarto". Era um Hotel electrónico. Caixa automática de "check in" que deu uma trabalheira, sem restaurante, toca a levar os enchidos, o pão e a "Quinta da Defesa" para o minúsculo quarto e dormir até amanhã às 6h.
18.01.2010 - Entramos na ultima etapa europeia - Perpignan a Almeria - onde embarcaremos para Nador, Marrocos pelas 23h. São mais 1.000Kms e desta vez temos que chegar pelo menos às 23h. O Toy está pior. As quebras de potência são mais acentuadas e persistentes. Estamos indecisos sobre o que fazer: continuamos para Marrocos, ou rumamos a casa? A vontade de continuar é muito maior do que a de desistir mas, do outro lado é Marrocos, é tudo muito mais complicado. É certo que temos assistência em viagem, mas se o Toy "aterra" no meio de uma pista a quilómetros da estrada, não é facil a assistência... será tudo muito mais complicado.Passamos Barcelona e, em Tarragona, decidimos ir ao concessionário da Toyota. Aguardavamos uma opinião credenciada, certos de que, mesmo para um bom mecânico, na hora, não seria fácil um diagnóstico e uma opinião. Tarragona ficava na encruzilhada Almeria ou casa.
Lá fomos à Toyota e, como esperávamos, quanto a continuar o raid, o chefe de oficina deu-nos um "nim": o carro fez 2.000 kms, pode fazer outros tantos, como mais, como 50 ou nenhum. Pode ter sido o gasóleo, pode ser da bomba injectora, pode... Saimos com entramos. Pronto vamos embora. Terminou para nós o famigerado BB 2010. Na rotunda das decisões mudamos de ideia: vamos para Marrocos, ou melhor, vamos até onde o Toy nos levar.
Apesar das adversidades, chegamos a Almeria com tempo de sobra para aparcarmos o carro, trocarmos alguma conversa com o pessoal, comprar umas coisas, comer outras, ir buscar o bilhete do ferry e dar uma "veulta" pelo Porto de Almeria. Esperava-nos uma travessia mediterrânica de sete horas, mas tinhamos um lugar de cabine para dormir. Com a estafa que trazemos até no mastro do barco adormecemos.

O ferry era fretado exclusivamente para o BB. O espectáculo foi grandioso ver e participar no embarque de mais de 200 carros todos "racings". Deixamos o carro e subimos à procura da cabine. Bem, não foi tarefa fácil. Estavamos estourados e o ferry era enorme com vários andares. Subimos e descemos uns quantos andares. Finalmente, num labirinto de corredores, lá demos com a cabina - era feita à meia medida do quarto de Perpignan - que desilusão. Não me perguntem se era no rés do casco, no sub-casco, no sub-sub-casco ou mais: uma coisa é certa não fosse o cansaço estonteante que sentia, por certo me tinha dado um ataque claustrofobico. Voltamos a subir para a zona social com a sensação que jamais voltariamos a encontrar a "nossa suite" que compartilhavamos com dois motards, um deles de canadianas - este pessoal é mesmo louco - fazer um raid destes, de mota e com canadianas pois tinha uma perna engessada. E nós preocupados com o catarro do Toy...
Antes de dormir ainda era preciso tratar dos carimbos para entrar em Marrocos. Bem, não acredito, vou cair aqui no salão e amanhã acordo sem carimbos e não posso entrar em Marrocos. O esforço foi sobrehumano já que havia uma fila até ao fim do mundo. Não, não era um carimbo. Eram dois e duas filas até ao fim do mundo. Quando conclui a empreitada e desci para a cabine, nos confins do casco, já ia tipo zombi. Era um tráfego no labirinto dos estreitos corredores que parecia Time Square em pleno dia.
Cai na liteira e quando toquei o colchão já dormia. Atenção que a estada é curta. Com todas as demarches restavam-nos uma três horas para dormir. A equação, horas de sono, quilometros percorridos e adversidades, estava mesmo desgastar-nos. Não houve um dia que não houvesse adversidades e desvios - voluntários e involuntários - nunca fizemos o cardápio certinho. Já já estaremos em Marrocos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

I Budapest - Agadir 2010


Bom, finalmente caí no real e consegui disposição e ânimo para começar o relato, tão minucioso quanto possível, do que foi a nossa participação no Budapeste-Agadir 2010. Sim, o suposto Budapest-Bamako, como ao diante explicarei, transformou-se no Budapest-Agadir. Depois de tanta logística, tempo despendido, um sem número de despesas, contactos, preparação da viatura e da bagagem, organizar uma ausência de tres semanas a um mês, etc., etc., o raid soube a muito pouco. Não foi uma frustração completa porque, principalmente em Marrocos, ainda curtimos bons momentos e atravessamos pistas e paisagens espectaculares. Não acompanhamos aqueles que foram para Bamako "ad hoc" (esteve por pouco até aos ultimos momentos)e ainda bem. Afinal, os que foram, fizeram-no tipo "ir num pé e vir no outro", na maior das correrias, sem saborear a aventura, as aldeias e os locais...
A parte introdutória desta nossa participação no BB 2010 encontra-se espalhada pelas primeiras mensagens deste blog pelo que me abstenho de as repetir aqui. Quem quiser "investigar" são apenas alguns "cliks" no arquivo.
13.01.2010 - Ás 13h lá embarcamos no Aeroporto Sá Carneiro rumo a Munique, via Madrid com a Ibéria.Chegamos a Madrid às 15h10m, em tempo e esfomeados. As viagens estão mais económicas mas, em consequencia, as companhias cortaram nos comes e bebes. Tinhamos à nossa frente um tempo de espera de quatro horas - o voo para Munique estava aprazado para as 19h45m. Alguma expectativa quanto a eventuais atrasos já que se fazia sentir muito mau tempo no nosso destino bem como na Europa Central em geral. Nos dias anteriores, subjaram os voos cancelados e viajantes a pernoitar nos aeroportos europeus mais fustigados pela neve e pelos ventos ciclónicos. A prioridade seguinte foi comer e beber o que fizemos com bastante apetite. De resto o habitual das esperas e escalas de aeroporto. Ver montras, encostar ao balcão do bar, duas de treta com os parceiros e, aparece sempre alguém conhecido. Desta vez foi o meu amigo Carlos Figueiredo que aguardava voo de regresso para o Porto, depois de ter participado numa feira profissional na capital espanhola. Foi bom. Bebemos um vinho e colocamos a conversa em dia. Pelas 18.30 fomos informados do primeiro atraso. Deixa lá, é só mais uma hora. Depois veio o segundo atraso que apontou o voo para as 23h. Tudo bem, mas se houvesse outro atraso...
Ás 23h embarcamos para Munique onde chegamos, mais uma vez esfomeados, por volta das 0h30m do "day after". Fixe.
14.01.2010 - Duas horas e meia de atraso. Nada mau. Metro até ao centro- uma horita. Nos planos: chegar ao hotel, pousar a bagagem e ala para o restautante turco ao lado comer um kebbab e saborear a deliciosa cerveja bávara. A paisagem estava toda branca. A temperatura amena: -5 (minus five - sente-se menos "in english"). Lá fomos ao turco, lá comemos kebbab e meio, lá bebemos duas bejecas, medida alemã, e toca a ir dormir como lontras. Dormir quatro horitas, tomar o "petit dejeuner" (sabe melhor em francês) e ala para Augsburg (mais concretamente para Langweid-Foret) buscar o Toyota que tinha viajado de camião.

A "Hauptbahnof Central Station" fica mesmo em frente ao hotel, apanhamos um comboio para Augsburg e de seguida outro até Gablingen. Começa-se a falar mais inglês na alemanha. Vá lá porque compreende-los é obra. Os meus dois anos de alemão pouco frequentados para nada servem.Bom, este apeadeiro no meio do nada, com uma paisagem coberta de neve, deu-nos uma certa sensação de desterro mas logo de dentro das instalações do apoio ferroviário lá apareceu um "fine" que se ofereceu para chamar um taxi que apareceu passados vinte minutos e que, sem saber muito bem o caminho, lá nos entregou no nosso destino - a famosa recepção "prisional" da Kuehne & Nagel.
As instalações do transitário, de porte magnífico e sóbrio, no rigor da recepção, mais parecia uma penitenciária ou um CC, "facilities" muito em voga por estas bandas entre 40-45.
Lá comunicamos que vinhamos buscar o nosso saudoso "baiculo", apareceu uma menina muito simpática qee foi tratar do assunto e volvidos alguns minutos apareceu no acesso à beira da recepção a conduzir o Toyota todo "enfeitado" para o grande raid. No entretanto, enquanto aguardamos na recepção, eis que aparece um "alemom" (pois claro, estavamos na terra deles), como que vindo da camara frigorifica, plano funcionário superior/quase dono, neo-SS, rude, presunçoso e mal educado mas sem perfil para a cena que pretendeu imprimir e que, parlapeando para o segurança nos pareceu ter-lhe comunicado que deveriamos era estar fora de porta e que "...vê lá senão para a próxima estás em "layoff". Sinceramente não percebemos para que santo o jumento estava a zurrar. O certo é que não levou uns sopapos "por consideração" ao segurança. Ehehehe...
Caça a viatura e "tirem-nos deste cenário" e toca a rumar a Budapeste.
Estava tudo como remetemos. Ignition, uma musiqueta e toca a andar que, em boa verdade, se fazia tarde.
Sò faltava atestar o deposito pois tinham-nos pedido que deixassemos o depósito nas lonas para o transporte.
Bem, não tardou muito, estavamos novamente a atesta-lo: o Toy carregado, com o tejadilho enfeitado e a 140/150 kms/hbebe, mas bebe...Quanto? Nem digo...
Só à entrada na Hungria é que a paisagem se vestiu novamente de verde/acastanhado. Até lá o branco, ora compacto ora rendilhado.
Chegamos à magnânime Budapeste caia a noite. Bendito GPS, direitinhos ao Hotel, que era um Aparthotel com um AP magnifico e a um preço muito em conta. Sempre à pressa, pousar malas e jantar num simpático restaurante mesmo em frente. Como se comeu bem, mas não se bebeu pior e a tolerância e grau de alcoolemia na Hungria é zero, o Toy ficou logo no parque e nós apanhamos um taxi para o "rendez vous" na Symbol.

A discoteca/restaurante Symbol é magnifica e intitula-se como um restaurante italiano de fusão - http://www.symbolbudapest.hu/italian/index.php?pid=1090.
O ambiente exterior e interior estava magnífico. Lá fora as viaturas. Dentro os participantes, amigos e amigas, stuff. Estava tudo muito bem. A festa foi organizada pela Hungarian Dakar Team uma das participantes "Race". Uma passagem de modelos tipo "homemade" com as raparigas um pouco "chambetas" mas esforçadas.
Bebemos um copo (máximo dois) demos duas de treta e recolhemos pois no dia seguinte havia controle técnico às 09h30m e estavamos já bastante cansados. À noite, Budapeste é ainda mais magnifica. Os monumentos, as pontes, o rio...

15.01.2010 - Pelas 9h lá abalamos para a Pista de Gelo que fica perto da Praça dos Heróis e do Castelo onde foi rodado o filme "Drácula". Era aí o parque fechado e as verificações técnicas. Tudo corria na normalidade, a azáfama dos participantes, grande parte deles já em parque fechado, uns carros em verificações mecânicas, pessoal com papeis de um lado para o outro... tudo se emcaminhava para, no dia seguinte, seguirmos para Bamako.
Havia que começar pela papelada para a qual estavam instaladas umas seis ou sete mesas devidamente numeradas para tratamento sequencial.
Pagar o ferry e as cabines, pagar o selo de prova do Mali, entrega dos passaportes com os respectivos vistos, fazer uma ridicula mini-prova escrita por alternativas (a nossa quem a fez foi a secretária de serviço com a régua de conferencia, tendo cuidado de colocar uma errada...), "requisitar" o famigerado TC para o qual tivemos que deixar € 100,00 de caução, meia dúzia de papeis para cá e para lá, crachás, fichas técnicas e, desta parte, estamos arrumados.
No vidro da porta da entrada um aviso " Reunião geral de participantes às 17h no local". Boa organização, exagerada até, diziamos.
Estava particularment curioso por conhecer o simpático e prestável Gabor Vargas, com quem fui trocando mails durante uns nove meses. Claro que também queria conhecer os irmãos Polgar mas não foi com eles que tratei de toda a logistica da prova.
Lá perguntei pelo rapaz, disseram-me que deveria estar à beira das inspecções técnicas, com um colete da organização com a menção de director de prova. Eis que conhecemos o Gabor - alcunha Jojo que quer dizer algo como bola ou balão ou coisa parecida- o Gabor é um rapaz "fote e godo", mas um tipo cinco estrelas.
Cumprimentos e apresentações da praxe e é a partir de aí que começaram as nossas dúvidas e incertezas quanto à sorte da prova.
Tenho que referir que a nossa participação no BB 2010 foi na qualidade de jornalistas amadores para a revista OffRoad4x4. Talvez por esse facto e também pelo relacionamento web que fomos mantendo (o Gabor já viveu em Portugal, gosta muito de Vila do Conde e de pasteis de nata...)decidiu transmitirnos o que ia nos bastidores.
"A organização estava reunida no Ministério dos Negócios Estrangeiros, tinham recebido pressões ao nível governamental para cancelar o raid dados os problemas dos sequestros na Mauritânia e no Mali, ao que parece o francês sequestrado perto de Tumbuctu tinha sido decapitada, o principal representante da Frente Polisários, já idoso, estava com um cancro terminal e os "jovens tenentes" queriam apresentar "serviço", consequentemente o Sahara Ocidental passou a ser território a evitar e, conclusão, só na reunião da 17h é que será tomada a decisão final.
Eu, que já em 2008 tinha ouvido uma conversa semelhante no Lisboa - Dakar e que vinha acompanhado os acontecimentos dos sequestros da Al Qaeda Sahelo-Magrebina que nada indicavam naquele sentido, sinceramente, fiquei mais para lá do que para cá. Então depois de tudo isto... não me digas que vão mandar-nos para Portugal com o "rabo entre as pernas" para além de nos fazerem pagar todas as despesas, prenchimentos administrativos...

Vamos lá para a inspecção técnica. Tudo em ordem, aplicar os autocolantes obrigatórios e estacionar o Toy em parque fechado. Até amanhã.
Amanhã é o grande dia... ou talvez não. O dia ainda é um "bambino".
Vamos lá almoçar que a fome aperta. O Nelo tinha um amigo local e decidiu ligar-lhe para organizar qualquer coisa para fazermos.
Enquanto almoçavamos lá apareceu o "nosso" amigo, o Andrea, e palavra puxa palavra toda a gente queria ir a "banhos". Budapeste é famosa pelos seus magníficos banhos quentes.
Não achei a ideia tentadora, queria encontrar os Sepúlvedas (unicos participantes portugas)e tinha "uma pulga atrás da orelha" no que tocava ao nosso grande objectivo: queria mais e rápidas informações.Os banhos ficavam perto do Ringue de Gêlo, fui com os "banhistas" até às piscinas quentes e despedi-me deles por um bocado - ficou combinado aparecerem para assistirmos à reunião magna.
Bordejei a Praça dos Herois, o castelo do "Drácula" e já próximo do parque fechado, do cimo da ponte, eis que enxergo o Toyota branco dos Sepulvedas.
Dei a volta ao recinto, entrei no Ringue e fui ao encontro do pai, Nuno, e filho, Luis Sepulveda que se encontravam a arrumar criteriosamente a carga no carro, claro como quem se prepara para uma grande odisseia.
Apresentamo-nos pois só conhecia o Luis de mails para cá e para lá e claro, não resisti a confidenciar-lhes os meus receios quanto à sorte da nossa empreitada.
Também não faltava muito para as 17h.
Em conversa com outros intervenientes, jornalistas, representante do Travel Channel, pessoal da organização, conclui que a decisão do BB estava muito bem guardada. Havia que aguardar mesmo pelo meeting.
No exterior começou a cair um friozinho que me questionava: como este pessoal não vai caber todo dentro da zona administrativa, a reunião vai ser lá fora. Estava um frio tamanho que só faltava o cancelamento da prova.
Com o aproximar da hora começou a aparecer o pessoal da direcção - o Andrew primeiro e, depois, o Andras Polgar. Pronto, já faltava pouco.
Dos banhistas, nem notícias. Claro, a água estava quentinha, cá fora um frio do "caneco", um emissário no terreno, deixa estar.
Estava certo: na zona adminstrativa não cabia nem um décimo do pessoal, o palco lá fora estava montado para a partida e foi aí que se posicionaram em cima de micros na mão, o Andrew e o Andras e, em baixo, no terreiro, tudo o que eram participantes, imprensa e acompanhantes ávidos de informação. Em boa verdade, pelo menos a generalidade dos participantes, jamais soube que o BB 2010 estava em perigo.
Tomou a palavra e a introdução o Andrew, em Inglês e depois o Andras, em hungaro. De hungaro, nem palavra. Do inglês, pois bem, a introdução foi um alívio. Em suma, depois de resumir o que se estava a passar, conclui com: o BB é uma expedição, uma expedição têm os seus riscos, o terrorismo não vai demover o BB 2010. Óptimo, vamos para Bamako. Seguiu-se a versão hungara. Algum burburinho que estranhei. O Andrew retomou a palavra em Inglês, o BB vai realizar-se... mas, este ano, pelos motivos referidos vai desenrolar-se em Marrocos e termina em Agadir a 29.01. Bem, não caiu o Carmo e a Trindade. Caiu o Parlamento. Eu, se estava gelado, mais gelado fiquei. Vá lá que o Gabor já tinha amparado a coisa.Quem recebeu a noticia em primeira mão, quem tinha bilhete de avião de volta, quem comprou carro para a expedição e pensava vende-lo em Bamako e que inclusive pagou cerca de € 350,00, quem reservou Hoteis em África...
Os ânimos exaltaram-se, o palco foi invadido por dois ou três participantes que, em alto e em bom e enraivecidos exprimiram o seu descontentamento, rasgaram-se cartazes, crachas, placares, a coisa esteve feia por uns instantes.
(http://vimeo.com/8765692 - video da comunicação).
Então e nós que viemos das aforras da Europa para rodar de Budapeste a Bamako? Marrocos para nós fica aqui ao lado. Não é plano fim de semana, mas quase. E aqueles maganos a banhos... cá vai um SMS. Outro para o Director da revista OffRoad4x4. Algo tipo: "Mais uma vez o terrorismo venceu um acontecimento automobilistico. O Budapeste- Bamako 2010 virou Budapeste - Agadir 2010.
Bem, o que é que a gente faz? De certeza que, deste pessoal todo, não vai faltar quem "embarque" para Bamako "ad hoc". E nós? Deixa assentar a poeira, falar com o resto do pessoal e logo se vê.
Tinhamos planeado ir jantar a uma restaurante que ficava numa ilha do Danúbio. Pois aproveitemos e, "vamos dar de beber à dor".
Pelo caminho fomos visitar um engenheiro mecânico, grande amigo do Andrea, que já tinha acompanhado várias provas TT do calendário hungaro, o Dakar e outros e que estava a construir de raiz um buggy TT na sua oficina caseira onde não faltava nada de ferramentas e meios de diagnóstico. Diferentemente das nossas oficinas, podia comer-se uma refeição à muçulmana.
Para evitar uma volta de 70 kms. atravessamos num ferry "particular" cujo ancoradouro, situado no meio do bosque, era um mero passadiço de madeira que tinha tipo "paragem de autocarros", também em madeira, para o pessoal se abrigar das intempéries. Havia umas dez pessoas para embarcarem connosco. Um frio gélido e uma neblina caiam sobre o rio e o arvoredo dando ao local e à paisagem um ar pró sinistro, mas também bucólico. Estava-se bem. Aguardava-nos um suposto bom jantar com iguarias e vinhedos hungaros.
Lá chegou o ferry, embarcação com uns quinze/vinte metros, que trazia de volta meia duzia de passageiros. Tudo a bordo e logo concluimos que aquilo era um ferry de bairro. O timoneiro, e provável dono, ia no andar de cima, a controlar as operações. Bem, frio era favor...

A viagem durou uns dez/quinze minutos. Atracamos junto a um edificio, com restaurante, que atravessamos pelo seu interior e, logo ao lado, ficava a casa do mestre timoneiro.
Como previamos voltar tarde, combinamos com ele a volta. Não havia crise: quando chegassemos batiamos à porta de sua casa e ele pegava no "bote" e trazia-nos de volta. Cena mesmo de bairro.Estavamos em Szigetmonostor (ufff!!).
Aguardamos pelo transporte para o restaurante: o dono vinha buscar-nos ao cais. Tardou uns vinte minutos. Seriam as 21h. Uma temperatura gélida "regada" pela humidade do Danúbio atravessava, os gorros, os casacos, as calças, as botas, a alma...
Lá chegou a boleia e directos ao restaurante que era numa casa típica, com salão rústico e ambiente caseiro - o Bacchus Vendéglo - http://www.ujvarybacchus.hu/. Era bom de ver que o Andrea era cliente habitual deste ritual. Cumprimentos e apresentações, senta à mesa e vamos é escolher os comes e bebes que não falta fome e vontade de aquecer com um vinhito.
A comida estava boa. As entradas com rãs fritas, caracóis estufados, fígado de ganso e outros, pessoalmente, deixam muito a desejar aos nosso enchidos, ovinhos de cordoniz, moelinhas, polvo em molho verde,...
Quanto aos vinhedos, os cicerones entenderam fazer uma degustação de vários vinhos. Conforme "morria" uma garrafa, a seguinte era de outra casta e região. Eu tinha-me ficado e repetido até final o néctar da segunda, mas nada como degustar.
O pessoal estava muito divertido. Nem parecia que tinhamos acabado de ser informados que já não iamos para o Mali. A "gota" ajudava. O Mali que nos aguarde.
Nem a gota nos anestesiou o suficiente para o impacto do frio que estava à saida do restaurante. Frio mesmo.
Nova boleia do dono do Bacchus até ao ancoradouro, mais concretamente até à casa do mestre. Batemos à porta que logo nos fraqueou.Homem simpático, esteriótipo, abundantes cabelos e barba branco/russo/fumo que, com um sorriso um nada ensonado, carregou o casaco e toca para o barco.
Do barco, não se via um palmo em qualquer direcção. Nevoeiro cerrado. Bendito "lobo do rio" e seu assessor: o gps. Nos tais dez minutos lá nos colocou na outra banda. Para chegar ao carro, que ficou no meio do mato, galgamos uma ravina para atalhar caminho. As esperadas derrapagens, quase quedas, dada "a má visibilidade e reduzida aderência incidental".
O Andrea fez questão que fossemos conhecer a sua casa e provar um Bourbon que por lá guardava a sete chaves. Depois chamariamos um taxi para nos levar ao Hotel.
Convinha lembrar que a partida do BA (ex. BB) 2010 era às 8h30 e ainda tinhamos que ir do centro de Istambul até ao Ringue de Gelo na Praça dos Heróis.
Valeu a pena: nunca tinha bebido um Bourbon com 63º que inalava madeira. Lamentavelmente, teve que ser rápido e curto, mas valeu.
Ficamos a dever uma recepção em grande ao Andrea. Aparece my friend que por cá serás bem recebido.
Despedidas (mal sabiamos que curtas) e taxi até ao Hotel. Chegados, antes de ir dormir, fomos à recepção reservar um taxi para de manhã.
Toca a dormir. Amanhã começa a nossa encurtada expedição.

domingo, 14 de março de 2010

Paises do Sahara reunidos contra a Al Qaeda


ARGEL (Reuters) - A Argélia vai sediar uma reunião de ministros do Exterior de países do deserto do Saara nesta semana, encontro que tentará elaborar um plano de ação conjunto para combater a ameaça crescente da al Qaeda, disseram autoridades.
Insurgentes têm sequestrado ocidentais e lançado ataques com bombas, explorando a amplitude e os espaços vazios do deserto, as fronteiras porosas e a falta de coordenação entre os governos da região.
A decisão da Argélia de receber o encontro parece indicar que o país vai assumir um papel importante na luta contra a al Qaeda no Saara, algo que governos ocidentais têm pedido ao país há anos.
Ministros da Argélia, Burkina Fasso, Chade, Líbia, Mauritânia, Mali e Níger estarão no encontro de um dia, na terça-feira, nos arredores da capital Argel.
"Não pode haver desenvolvimento na região sem paz e segurança", disse Abdelkader Messahel, ministro argelino, à rádio estatal no sábado.
A atividade insurgente no Saara tem sido até agora em pequena escala, mas diplomatas ocidentais afirmam que a região pode vir a virar um reduto e ser usada para preparar ataques em outros pontos do planeta.(O Globo)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Al Qaeda liberta as refens catalã e italiana

Alicia Gámez chegou esta tarde ao aeroporto de Barcelona. A ex-refém esteve cativa da organização terrorista no Magreb durante 101 dias.
Alicia Gámez, cidadã espanhola que esteve mais de três meses em cativeiro, foi libertada por uma das células da Al Qaeda. Alicia foi sequestrada juntamente com outros dois espanhóis, também da orgamização não-governamental "Barcelona Acció Solidária" (BAS), a 170 km de Nouakchot, capital da Mauritânia.
Os dois cidadãos hispânicos, Roque Pascual y Albert Vilalta, continuam sob sequestro, mas Alicia assegurou esta tarde, numa rápida conferência de imprensa à chegada ao aeroporto de El Prat, em Barcelona, que "estão os dois bem." Gámez disse, ainda, que está feliz por estar de regresso a casa. "Estou feliz por regressar, mas a minha felicidade só estará completa quando Roque y Albert estiverem de volta", garantiu. "Tratavam-nos bem dentro das condições duras do deserto", disse a cidadã espanhola, agora livre.
Alicia foi transportada quarta-feira de manhã para a capital de Burkina Faso, Uagadugú, onde um avião fretado pela Força Aérea Espanhola a recolheu e transportou para Barcelona.
Foi no passado dia 12 de Dezembro que os fundamentalistas islâmicos da Al Qaeda confirmaram ter sequestrado Roque Pascoal, Albert Vilalta, Alicia Gámez e o cidadão francês Pierre Camette.
Juntamente com Alicia Gámez, também foi libertada a italiana Filomena Kaouberee, que desde 12 de Dezembro se encontrava em poder dos fundamentalistas islâmicos que actuam em zonas do Norte e Noroeste de África.

domingo, 7 de março de 2010

Reféns espanhóis por presos na Mauritânia

Al Qaeda quer trocar os reféns espanhóis por presos na Mauritânia
A organização terrorista Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) exigiu a soltura de muçulmanos presos na Mauritânia em troca da libertação dos três voluntários espanhóis reféns no norte do Mali, informaram ontem fontes próximas à negociação.
Alicia Gámez, Roque Pascual e Albert Vilalta, membros da ONG Barcelona Acción Solidaria, foram sequestrados em 29 de novembro, quando viajavam em um comboio com material humanitário com destino ao Senegal. Eles foram raptados na Mauritânia e levados para o norte do Mali, onde permanecem desde então.
O jornal espanhol "El Mundo" afirmou recentemente que a Espanha decidiu pagar US$ 5 milhões a Al Qaeda para a libertação dos três espanhóis. A informação não foi confirmada pelo governo espanhol. A exigência de libertação de ativistas islamitas presos na Mauritânia pode complicar significativamente a resolução do sequestro, disseram as fontes citadas.
O primeiro-ministro mauritano, Moulay Ould Mohammed Lagdaf, afirmou em entrevista coletiva que seu país "jamais negociará com os terroristas" da AQMI. Lagdaf explicou que há três estratégias para a questão do terrorismo e que nenhuma delas passa pela negociação.
Segundo ele, os caminhos são o diálogo com os terroristas para convencê-los da contradição entre seus métodos e a religião muçulmana; a inclusão social dos jovens mauritanos por meio de projetos econômicos, e, finalmente, a força.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Al Qaeda do Magreb/Sahel e o narcotrafico

Al-Qaeda fatura com a proteção às rotas de transporte de drogas na África

1. Para Osama bin Laden, todo o norte da África, “o Maghreb islâmico” como se refere à região, deve ser retomado.

A Al-Qaeda Central, a fim de atingir essa meta, conta no norte da África com um braço terrorista conhecido por Al-Qaeda do Maghreb.

Na verdade, vários grupos de terroristas fundamentalistas da Argélia, Mauritânia, Mali e Marrocos, deliberaram se unir e conseguiram autorização de Bin Laden e Al-Zawahiri para usar a marca Al-Qaeda, com o acréscimo do termo Maghreb.

Essa iniciativa dos terroristas africanos calçou como luva aos planos alqaedistas. E como todos sabem, a Al-Qaeda Central virou uma “franchising” do terror e mantêm-se viva graças ao ciberterrorismo por onde espalha a regra do “faça você mesmo a sua parte”, ou seja, promova escoteiramente ações terroristas sem precisar do nosso aval .

Não se deve esquecer que o sonho de Bin Laden é restabelecer um califado (khilafa). Lógico. E expandir os seus domínios pelos territórios dos povos infiéis, que são todos aqueles que não professam o islamismo fundamentalista sunita. No seu plano, por evidente, está a reintegração do Maghreb, que corresponde ao norte da África. Dispensável afirmar que o califa seria Osama bin Laden.

Como a Al-Qaeda Central está no vermelho, falida há muito tempo, o braço do Maghreb deve buscar os próprios recursos financeiros para a Jihad Africana.

Assim, a cúpula da Al-Qaeda do Maghreb, que só não tem autonomia para tratar de questões religiosas, deliberou “comboiar” os carregamentos de cocaína que chegam por mar à Mauritânia: é uma das principais rotas de passagem da cocaína destinadas à Europa (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia) e Ásia (via Egito).

2. Neste fim de semana, depois de um confronto de fogo entre a polícia da Mauritânia (orientada pela agência norte-americana DEA - Drug Enforcement Administration) e membros da Al-Qaeda do Maghreb, que davam proteção a um carregamento de drogas e a narcotraficantes, foram presos 20 terroristas.

A Al-Qaeda do Maghreb dava cobertura a oito caminhões, que transportavam cinco toneladas de cocaína, armas leves e vários botijões de gasolina. Três traficantes morreram no embate.

Segundo as autoridades do governo da Mauritânia, as apreensões e o confronto ocorreram próximo à fronteira com o Mali.

Os alquedistas foram transferidos para Nuakchott (capital da Mauritânia) em helicópteros. Os 20 terroristas estão presos e já teriam admitido que a proteção aos carregamentos de drogas é a principal fonte de renda da Al-Qaeda do Maghreb.

Wálter Fanganiello Maierovitch