quinta-feira, 22 de abril de 2010

II Budapest - Agadir 2010



16.01.2010 - Hoje era suposto ser o grande dia. O recuo da organização baralhou tudo. Ninguém sabia o que fazer, como reagir...
Sete da manhã, acorda, banho, veste, arruma tralha, pequeno almoço, chave na recepção e ala que o taxi está à espera:Ringue de Gêlo.
O ambiente era tremendo. Quem não sabia das vicissitudes estava a ver um grande espectáculo: preparava-se a partida para o BB 2010.
A côr, a multidão, a azáfama da partida, o espectáculo do palco, os visitantes, os participantes, a organização, os carros pitorescos, coloridos, a neve que caiu durante a noite virou gêlo e também enfeitava. O dia nasceu bonito, aberto, azul, soleado. Não deviam ter recuado...
Os motores já roncavam para afastar o frio. Ultimas arrumações e fixações da bagagem. Vamos arrancar. A ordem de saida é como os carros estão aparcados. É imensa a multidão que veio apreciar tamanho espectáculo. Fotos, filmes, beijos e abraços de despedida. Sem dúvida uma grande movimentação de máquinas e gente.
Tirar o gêlo dos vidros não é fácil. Nada como aprender com o pessoal do lado que logo se vê estar habituado à empreitada. Com a escova a coisa anda...
Os carros iniciam a marcha conforme a sua disposição no parque,fazem a "passerelle", sobem o palco são cumprimentados pelo apresentador, a organização entrega o "road book" do primeiro dia, as "coquettes" do visadron hungaro também ajudam à festa, desce o palco, começou a travessia do sul da Europa rumo a África, próxima, mas África.

Chegou a nossa vez, tchau-tchau, bye-bye, sair do ringue, contornar a Praça dos Herois, avenida após avenida, vamos cruzando Budapeste, atravessamos a ponte sobre o Danúbio e estamos na estrada, tendo como meta a cidade italiana de Mantova da qual nos separam cerca de 850 kms - atravessar a Hungria, bordejar a fronteira da Croácia, Eslovénia e Itália.
A nossa tão bem programada expedição, decididamente, não estava a correr a gosto. Mal saimos de Budapeste o Toy começou a falhar - quando a estrada subia não passava dos 60/70Kmh, em plano 90/100 e a descer, pois, todos os santos ajudam. Como o carro vinha de uma longa intervenção a preocupação foi redobrada á qual há que somar a mudança de destino, a distãncia e, em boa verdade, ainda não nos sentimos da mesma forma na europa de leste como nas nossas bandas. Tinhamos começado o raid e já com problemas mecânicos, o que fazer, avançar, voltar a Budapeste, será disto, será daquilo, liga para Portugal para o mecânico, ao quilómetro 80 decidimos voltar para Budapeste, ligamos ao Andrea para ele nos acompanhar ao mecânico que tinhamos conhecido no dia anterior. O mecânico lá verificou o carro e, em s.o.s. inclinou-se para eventual má qualidade do gasóleo: mudou-se o filtro do óleo e buscamos uma estação de serviço específica que tinha o melhor gasóleo com aditivo e fomos atirados à sorte. Com somos optimistas até concluimos que carro já estava a 100%. Optimismo de pouca dura: o carro melhorou mas está longe dos 100%. Bom para a frente é que é e logo vemos e, com estas e aquelas só pelas 15h é que saimos de Budapeste. A ideia de ter que andar de noite com o carro incerto e o fresquinho que fazia não era muito interessante. Também perdemos de ver os bosques de neve da Eslovénia já que só por lá passamos de noite. Dentro dos possíveis foi uma correria até Mantova, com um ligeiro engano numa rotunda após saida da auto-estrada nos levou à fronteira da Croácia com rapazes muito simpáticos mas ainda muito "armados" para o nosso hábito fronteiriço - vá lá deêm aqui a voltinha em solo croata, voltem à rotunda e é a terceira à esquerda em vez da quinta. Bordejamos a fronteira numa estrada nacional e, alguns quilómetros à frente, voltamos a entrar na auto-estrada e sempre assim até Montova onde chegamos já pela meia-noite. Manotova é uma cidade entre muros, magnífica com uma praça medieval toda empedrada, que merecia uma visita mais prolongada o que não foi o caso pois fomos directos ao hotel, comemos duas sandes e logo dormir para acordar às 6h já que a partida seria às 07.30h.

17.01.2010 - A partida para a segunda etapa é feita na bela e medieval Piazza Sordello, com o seu belo Palazzo Ducale e termina em Perpignan num percurso de 900 kms que logo começa a descer para o Mediterrâneo. O Toy continua "engripago e engasgado" mas vai andando. A Côte d`Azur aguarda-nos...
Antes da fronteira saimos da auto-estrada, para San Remo e fizemos todo o percurso até ao Mónaco pela estrada nacional à beira mar. Magnífico, até nos esqueçemos que o Toy anda a falhar, ou será que ele, com a aproximação do mediterrâneo também melhor. Não me recordo. O que é certo é que forma bons momentos, com musica alta e o pessoal animado. Chegados ao Mónaco, como não podia deixar de ser, fizemos a parte do circuito que liga o centro da cidade, tunel, piscinas marina. Lá chegados estava um grupo de BBs, nele incluido o Andrew com a sua camisa folclórica, cabeleira negra aos caracóis e grandes óculos redondos de aros grossos. Estava sentado no passeio da maraina com maquina de filmar e tripé a fazer uma auto - reportagem. O Andrew é uma figura enigmática com os seus adornos e seu pitoresco Peugeot 504.

Almoçamos e retomamos a "Autoroute du Sud" até Perpinan. Mais uma vez o Toy a apresentar queixas com o aproximar do fim do dia - será que está a ficar esquisito e não se dá com o frio?. Retiramos-lhe a valvula de retorno do gasóleo. Não é que fizemos os 200kms que nos separavam de Perginan sem falhas de potência. Demos com a coisa - a valvula de retorno estava a causar problemas. Chegamos a Perpignan já noite, estafados fomos ter ao parque BB e directos ao Hotel para jantar e dormir pois no dia seguinte havia muito do mesmo. No parque do Hotel encontramos os Sepulvedas que já tinham chegado. "Pessoal não levem muita bagagem senão não cabem no quarto". Era um Hotel electrónico. Caixa automática de "check in" que deu uma trabalheira, sem restaurante, toca a levar os enchidos, o pão e a "Quinta da Defesa" para o minúsculo quarto e dormir até amanhã às 6h.
18.01.2010 - Entramos na ultima etapa europeia - Perpignan a Almeria - onde embarcaremos para Nador, Marrocos pelas 23h. São mais 1.000Kms e desta vez temos que chegar pelo menos às 23h. O Toy está pior. As quebras de potência são mais acentuadas e persistentes. Estamos indecisos sobre o que fazer: continuamos para Marrocos, ou rumamos a casa? A vontade de continuar é muito maior do que a de desistir mas, do outro lado é Marrocos, é tudo muito mais complicado. É certo que temos assistência em viagem, mas se o Toy "aterra" no meio de uma pista a quilómetros da estrada, não é facil a assistência... será tudo muito mais complicado.Passamos Barcelona e, em Tarragona, decidimos ir ao concessionário da Toyota. Aguardavamos uma opinião credenciada, certos de que, mesmo para um bom mecânico, na hora, não seria fácil um diagnóstico e uma opinião. Tarragona ficava na encruzilhada Almeria ou casa.
Lá fomos à Toyota e, como esperávamos, quanto a continuar o raid, o chefe de oficina deu-nos um "nim": o carro fez 2.000 kms, pode fazer outros tantos, como mais, como 50 ou nenhum. Pode ter sido o gasóleo, pode ser da bomba injectora, pode... Saimos com entramos. Pronto vamos embora. Terminou para nós o famigerado BB 2010. Na rotunda das decisões mudamos de ideia: vamos para Marrocos, ou melhor, vamos até onde o Toy nos levar.
Apesar das adversidades, chegamos a Almeria com tempo de sobra para aparcarmos o carro, trocarmos alguma conversa com o pessoal, comprar umas coisas, comer outras, ir buscar o bilhete do ferry e dar uma "veulta" pelo Porto de Almeria. Esperava-nos uma travessia mediterrânica de sete horas, mas tinhamos um lugar de cabine para dormir. Com a estafa que trazemos até no mastro do barco adormecemos.

O ferry era fretado exclusivamente para o BB. O espectáculo foi grandioso ver e participar no embarque de mais de 200 carros todos "racings". Deixamos o carro e subimos à procura da cabine. Bem, não foi tarefa fácil. Estavamos estourados e o ferry era enorme com vários andares. Subimos e descemos uns quantos andares. Finalmente, num labirinto de corredores, lá demos com a cabina - era feita à meia medida do quarto de Perpignan - que desilusão. Não me perguntem se era no rés do casco, no sub-casco, no sub-sub-casco ou mais: uma coisa é certa não fosse o cansaço estonteante que sentia, por certo me tinha dado um ataque claustrofobico. Voltamos a subir para a zona social com a sensação que jamais voltariamos a encontrar a "nossa suite" que compartilhavamos com dois motards, um deles de canadianas - este pessoal é mesmo louco - fazer um raid destes, de mota e com canadianas pois tinha uma perna engessada. E nós preocupados com o catarro do Toy...
Antes de dormir ainda era preciso tratar dos carimbos para entrar em Marrocos. Bem, não acredito, vou cair aqui no salão e amanhã acordo sem carimbos e não posso entrar em Marrocos. O esforço foi sobrehumano já que havia uma fila até ao fim do mundo. Não, não era um carimbo. Eram dois e duas filas até ao fim do mundo. Quando conclui a empreitada e desci para a cabine, nos confins do casco, já ia tipo zombi. Era um tráfego no labirinto dos estreitos corredores que parecia Time Square em pleno dia.
Cai na liteira e quando toquei o colchão já dormia. Atenção que a estada é curta. Com todas as demarches restavam-nos uma três horas para dormir. A equação, horas de sono, quilometros percorridos e adversidades, estava mesmo desgastar-nos. Não houve um dia que não houvesse adversidades e desvios - voluntários e involuntários - nunca fizemos o cardápio certinho. Já já estaremos em Marrocos.