sábado, 8 de maio de 2010

III Budapest - Agadir 2010



19.01.2010- Fácil de concluir que o raid propriamente falado começaria em Marrocos e suas pistas off- road. Mais duras para a categoria "Race" que para a categoria "Adventure", haveria adrenalina para todos. O nosso acordo coma organização do BB foi o seguinte: como jornalistas amadores, fariamos a cobertura escrita e fotografada da categoria "Race", cobertura essa que seria publicada em seis páginas da revista OffRoad 4x4 de Março. Mas, com a alteração do trajecto e dos principais objectivos do raid, tudo se baralhou. Apesar de procurarmos disfrutar ao máximo do novo trajecto a verdade é que, agora, tudo ficou diferente e, desde logo, entendemos que o nosso acordo com o BB estava resolvido, sem retorno para qualquer das partes. Se a ideia da reportagem não foi logo totalmente posta de lado passou a ser pensada como uma meia página a contar o sucedido e já não uma reportagem do novo raid. Se para a malta do leste vir para Marrocos já era uma boa expedição, para nós, Marrocos é nosso vizinho, já aqui ao pé da porta. Tudo isto para dizer que nos sentimos livres de seguir o trajecto que entendessemos, sem preocupações jornalisticas, sem tempo, sem roadbook, simplesmente ao sabor da vontade. Não quero com isto dizer que não apareciamos em alguns meetings da partida e da chegada mas sempre com larga margem temporal e, se não apareciamos de manhã, apareciamos à tarde, ou seja, estavamos sempre presentes para receber o TC e o roadbook, ouvir as novidades, as queixas, as mazelas e, principalmente, os novos planos que começavam a ser ventilados.
As etapas diárias oficiais para Marrocos foram as seguintes:
19 - Nador / Merzouga (Erg Chebbi)
20 - Merzouga (Erg Chebbi) / dia livre
21 - Merzouga (Erg Chebbi) / Tinerhir
22 - Tinerhir / Zagora (Mhamid)
23 - Zagora (Mhamid) / Assa
24 - Assa / Tarfaya
25 - Tarfaya / Cap Draa
26 - Cap Draa / Sidi Ifni
27 - Sidi Ifni / Tafroute
28 - Tafroute / Taliouine
29 - Taliouine / Agadir
Pois bem. Saimos do ferry as formalidades fronteiriças foram bastante agilizadas, colocaram-nos o TC, roadbooks na mão (vá lá saber-se para quê), gasóleo no depósito, pequeno almoço num café de Nador e vamos para a estrada. Uma novidade magnífica - o Toy gostou de África - por passo de mágica não engasga, não perde potência, está a 100%. Tinhamos a ideia de nos colarmos a alguém, mas com esta boa nova, de uma forma pouco cautelosa e atrevida, ficamos livres como pássaros cujo único objectivo era chegar ao "ninho" no fim do dia. Como é que vamos chegar ao Erg Chebbi? Logo se vê. O Toy está fixe, nós estamos fixes. Tinhamos um track que atravessava o "Plateau du Rekkam", é por aí que vamos. Nada como atravessar o planalto rumo ao sul de Marrocos. É "straight away". Direcção Taourit e depois Debdou onde literalmente há uma ingreme e estreita subida para o "plateau". Quando chegamos ao plano que efectivamente é muito alto, 1500 metros,a sensação é extasiante. A paisagem é de cortar a respiração - é uma planície no céu. São quilómetros e quilómetros de planície a perder de vista. Pois, o Toy está perfeito mas pode ter uma recaida. Não vamos atravessar o planalto todo. Vamos derivar para sudoeste e apanhar o esfalto. Andar só por estas bandas é altamente desaconselhável. Com o carro em convalescência é já "pôr-se a jeito" e não era a ideia. Derivamos então para a N15 em direcção a Missour, Midelt, Ar-Rachidia, com passagem pelas "Gorges du Ziz" e Erfoud onde chegamos já noite. Fomos directos para a pista de areia que liga Erfoud ao Erg Chebbi em direcção a Merzouga. Quando deixamos o alcatrão estavam uns furgões indecisos se avançavam ou não. Ainda bem que decidiram pela negativa porque a pista não era fácil, muita areia e, à noite, "todos os camelos são pardos". Seguimos com outros participantes que, a meio da pista, derivaram para a esquerda. Bom seguiram outra pista. Mentira. Quando chegamos às imediações de Merzouga (ou Adrouline, sei lá) reinava um silêncio e um breu de lua nova. O que é que se passa? Onde está o acampamento? Pois, pensando que o acampamento era em Merzouga não consultamos as notas e coordenadas do roadbook. Merzouga fica no limite ocidental do Erg, mesmo no meio. O acampamento ficava no limite norte. Bendito GPS porque de noite, não ia ser fácil. Lá fomos contornando o Erb sempre com muito cuidado para não atascar pois estavamos fora de rota e finalmente encontramos o camping instalado mesmo nas margens do Erg perto de um albergue com quartos e bivouac. O furgão do nosso amigo Kariati já lá estava, inconfundível com as suas duas listas azuis. Demos uma "ganda bolta" mas vá que não ficamos plantados no areal.
Estacionamos à beira dos nosso amigos e preparamo-nos para fazer o jantar tendo como quadro de fundo as dunas do Erg e como telhado um céu que se vê mais enfeitado no deserto. Começava a fazer um fresquinho que queria adivinhar uma noite fria. Compartilhamos uma geladinha com os nossos amigos, como aperitivo, nós oferecemos um branco alentejano fresquinho enquanto faziamos um arroz com enchidos vários e cogumelos que estava supimpa. Esfriava a cada minuto. O parque era a areia. Uns ficaram no albergue outros acamparam, mas acampar como ao diante se veria, não foi grande ideia. Já não chegamos a tempo do "breefing" mas logo fomos informados que o dia seguinte era de descanso para dar umas voltas no Erg. Bem mereciamos. Foi uma estafa. Havia bastante movimento e barulho provocado pelos camiões da assistência mecânica. Apesar, a multicolor imagem do circo no deserto era relaxante. Durante o jantar estivemos a conversar com o Kariati e amigo do qual não me recordo o nome pois os nomes hungaros são muito dificeis de "encaixar". Começava a falar-se cada vez mais da ida "ad-hoc" para Bamako. Amanhã aprofundamos isso. Ligeira volta pelo camping, pelo albergue e pelo bivouac - só se falava em ir para Bamako. Vamos estriar a tenda de tejadinho. Já fazia um frio dos diabos. Dormi vestido, com casaco, saco-cama e cobertor em cima e mesmo assim estava gelado. A lona da tenda quase pingava dada a condensação. Durante a noite começamos a ouvir carros a trabalhar, tinha sido o pessoal que, como não se tinham preparado para o frio, deixaram as tendas e foram para os carros com o aquecimento ligado. De manhã tive a resposta, o termómetro marcava dois graus negativos. No deserto o dia é muito quente e a noite muito fria. Há que acautelar.

20.01.2010 - O dia foi praticamente de descanso. Quem quis foi "atacar" as dunas do "Erg Chebbi" mas no final regressou à base pois o camping permaneceu no mesmo sítio. No dia seguinte é partiriamos para Tinerhir. Levantamo-nos relativamente cêdo. Fazia mesmo muito frio. Só por volta das 9.30h é que o sol começou a aquecer. Tomamos o pequeno almoço, ficamos um pouco ao sol para aquecer o esqueleto e fomos dar uma volta pelo "circo". Como já anteriormente referi tinhamos informações priveligiadas através do nosso amigo Gabor. Havia um "ruido" estranho no ar. Falava-se em seguir para Bamako, à revelia da organização, com o Andrew. Tão simples quanto isto: quem quisesse seguir para Bamako que aparecesse no dia 25.01 às 21.30h no Hotel Regency em Dakhla. Quem estava a organizar a "revelião" era tão só o Andrew Szabo. Bom o Andrew é tão só o fundador e proprietário do BB. Afinal o que é que se passa Gabor? Estão é o seguinte: o Andrew tinha cedido a exploração do BB aos irmãos Polgar por três anos. Compreendeu a decisão deles mas, nem por isso queria deixar de seguir para Bamako. Dizia o Gabor que ele queria seguir para Bamako porque tinha contratado um filme sobre o raid e queria fazê-lo de qualquer forma. A organização já tinha feito circular um prospecto em que explicava o motivo da decisão e os eventuais perigos. Era uma luta desenfreada da organização para não desmanchar o raid já de si bastante enfraquecido. Quem estava a pensar "descer" já não queria "subir" para Tinerhir e sim seguir directo para Zagora / Mhamid e aguardar aí o dia pelo raid que aí iria pernoitar depois de Tinerhir. Era o BB, ou melhor, o BA, a desmembrar-se. A maioria deste pessoal era da categoria "Adventure". Mas a "Race" também ficaria afectada. Nós estavamos indecisos mas virados para seguir o Raid mais uns dias. Nós que para além da expedição também tinhamos o trabalho de reportagem ainda foi pior decidir. A ida a Bamako sem a organização dava a sensação de que se ia para salvar uma frustração. O astral era baixo, carregado de indecião. Não tinhamos feito planos para ir a Bamako. Os planos foram feitos pela organização. Por outro lado, andar por Marrocos também não tinha sido o nosso objectivo. As coisas não estavam a correr bem. O espirito era cabisbaixo, de avanços e recuos. Tanto trabalho e despesa para estarmos em Marrocos. Fomos ao leste da Europa para ir para Marrocos. Vamos relaxar o dia e logo se vê.
O resto do dia foi dominado pela "deserção", pelo convívio, pelos comes e bebes. Bem este pessoal de leste bebe, mas bebe!!!! E depois é só material "explosivo". Como tinhamos a tenda aberta e não estavamos com pachorra para a fechar nem tiramos o carro do sítio. O pessoal ia e vinha, uns atascanços nas duras, uma invasão de vendedores ambulantes que, como habitualmente, aparecem do nada, mas que foram imediatamente repildos pelo pessoal do albergue com aquela habitual algazarra. O dia passou-se pois no convivio ora com os ingleses do taxi londrino e do fusca; com os nossos amigos hungaros do furgão azul e branco; com os polacos do camião e respectiva comitiva, que eram umas autenticas esponjas, falamos com o Andrew que confirmou a reunião em Dakhla e a ida a Bamako, no final do dia houve o meeting habitual que não trouxe nada de novo. Preparamos o nosso jantar - preparamos eu na logística e bebidas e o Bré nos cozinhados que, diga-se de passagem, tinha muito jeito. Os enchidos das Carnes Seara, ora com arroz, ora com massa, ficavam um mimo. Pãozinho fresco e bom não faltava, com um patê e lá faziamos o repasto. Mais duas de treta e toca a dormir que já faz um frio tremendo e amanhã é para avançar cedo. Vestir os agazalhos todos e upa para o andar de cima.
21.01.2010-